As manifestações de discriminação a grupos sociais e raciais específicos vem crescendo e tornando-se constante em todo o mundo e essas ações também se associam ao estímulo da violação à democracia, decorrentes de ideologias e práticas neonazistas e neofascistas, com vertentes ligadas ao antissemitismo.
É o que mostra o relatório de eventos antissemitas e correlatos no Brasil, elaborado pelo Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil (OJDHB). O documento tem como objetivo central estudar os eventos antissemitas e os seus correlatos neonazistas e de caráter fascista, ocorridos entre 01/01/2019 e 30/06/2022 e publicados em veículos de imprensa e mídias digitais.
Onde há neonazistas, fascistas e antissemitismo, ocorre também práticas racistas, homofóbicas, xenofóbicas, e muitas outras intolerâncias, violências e disseminações de ódio. E os números são alarmantes quanto ao crescimento desses grupos no mundo e especialmente aqui no Brasil.
Segundo a antropóloga Adriana Dias, citada no relatório da OJDHB, em apenas dois anos o Brasil registrou um aumento de quase 60% de grupos neonazistas, saltando de 334 células neonazistas em 2019 para 530 em 2021.
Os números também aumentaram no registro de denúncias de crimes cibernéticos neste mesmo período apurado. De acordo com a SaferNet, a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos processou em 2019, 1.071 denúncias anônimas de neonazismo feitas pela população, em 2021 foram 14.476 denúncias.
Esses grupos neonazistas, fascistas e antissemitas possuem, em sua maioria, visões ideológicas marcadas pelo nacionalismo exagerado, repudiam as liberdades democráticas, alguns pregam e enaltecem a limpeza étnica e política, repressão por meio do culto da violência policial, armamento da população, intolerância racial e sexual, deslegitimação da política (propondo eliminar a corrupção), das instituições e do Estado de Direito, reacionarismo moral e cultural, desmonte de políticas públicas, sociais e trabalhistas, guerra contra o comunismo e ascensão de um nacionalismo vazio.
No campo político, podemos observar uma recente ascensão da extrema direita reacionária, autoritária e neofascista. O diretor de uma das mais importantes instituições de pesquisa do mundo, o Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), Michael Löwy, dá como exemplo Trump (USA), ISIS (o Estado Islâmico), Bolsonaro (Brasil), Rússia (Putin), dentre outros.
Para os pesquisadores ligados ao Laboratório de História Política e Social (LAHPS) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Leandro Pereira Gonçalves e Odilon Caldeira Neto, “para enxergar o neofascismo, é preciso observar ações de indivíduos e não apenas de partidos políticos – os discursos de ódio, a intolerância, a defesa de um nacionalismo radical e o uso da força e da violência são características convergentes com práticas fascistas autoritárias, que dialogam com grupos que existem pelo mundo afora”.
O relatório da OLDHB tabulou, utilizando a Metodologia para Mapeamento de Violações dos Direitos Humanos, e registrou que dos 384 registros coletados, 44% equivalem a violação, 45% às notícias sobre ações da polícia, do judiciário e complementares e os 10% restantes aos textos de análise sobre os eventos relacionados ao fascismo, nazismo ou antissemitas, compreendido no período de 01/01/2019 a 30/06/2022.
Os dados relacionados aos eventos antissemitas e neonazistas identificadas e divulgadas na imprensa e nas redes sociais quase dobraram a cada ano ao longo do período analisado. Dos 114 eventos registrados, 12 ocorreram em 2019, 21 em 2020, 49 em 2021 e 32 apenas no primeiro semestre de 2022.
Quando se trata do tipo de ação dada no evento, as manifestações somam 42%, agressões verbais 25%, propaganda cerca de 15%, violência física e vandalismo somam quase 10% e deslegitimação de Israel os 8% restantes.
O Núcleo Investigativo da CNN divulgou os dados obtidos referentes ao número de inquéritos abertos pela Polícia Federal para investigação de casos ligados a apologia ao nazismo e de acordo com o Núcleo, em apenas uma década houve um aumento de 900%, sendo que os números se tornaram mais acentuados entre 2018 e 2020 quando os registros passaram de 20 para mais de 100 ao ano.
O Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil foi criado em 2018, após as eleições presidenciais, por judias e judeus que estavam preocupados com os sinais que o país vinha dando, em especial com as falas e certas ações do atual presidente, Jair Bolsonaro, no que refere a ascensão da extrema direita, no campo político, e das consequências que esses eventos trarão.
O relatório expôs dados alarmantes sobre o crescimento de eventos fascistas, nazistas e antissemitas no Brasil e no mundo e esses estudos precisam ser divulgados e acompanhados com muita atenção para que essas cédulas de grupos extremistas sejam controlados e exterminadas do planeta, pois a história já comprovou tudo o que são capazes e o mau que causam as minorias da sociedade em prol de uma ideologia julgadora, preconceituosa que se ocupa em disseminar apenas o ódio.
Clique aqui para ter acesso ao relatório na íntegra.
Fonte: Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil (OJDHB) – Relatório de Eventos Antissemitas e Correlatos no Brasil – 01/01/2019 a 30/06/22