Por Imprensa SINSSP
O racismo voltou a ser pauta na imprensa na última semana após um homem negro ser espancado e morto dentro do estacionamento de um supermercado em Porto Alegre. A discussão ganhou notoriedade e a desigualdade racial mais uma vez provou que está longe do fim aqui no Brasil.
Embora, infelizmente, ainda haja pessoas que acreditam que o racismo não existe ou que a sua força esteja diminuindo, os números mostram exatamente o contrário e pesquisas indicam que a cor da pele de uma pessoa ainda conta no cotidiano dos brasileiros, principalmente na hora de arrumar um emprego. E a pandemia da Covid-19 acentuou ainda mais essa desigualdade no mercado de trabalho.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a população negra sentiram os danos da redução das atividades econômicas provocados pelo isolamento social, ação necessária para conter o novo coronavírus.
Os números mostram que mais de 6, 4 milhões de homens e mulheres negros saíram da força de trabalho (como ocupados ou desempregados) entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, isso significa que não buscaram recolocação profissional por acreditar que não conseguiriam neste momento de pandemia. No entanto, entre os brancos o número de pessoas nessa mesma situação está bem menos que a metade da população negra, são 2,4 milhões.
A diferença entre o tom da pele também está presente entre as pessoas que perderam o emprego, ou seja, dos 8 milhões de desempregados entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, 71% eram negros o que equivale 6,3 milhões de pessoas.
Já no quesito vulnerabilidade, a pesquisa mostra que entre o final de 2019 e começo de 2020, 72% das pessoas negras estavam em situação vulnerável no Brasil, ou seja, 8,1 milhões de brasileiros.
A pandemia gerou uma crise no mundo do trabalho já que o medo de contaminação por um vírus imprevisível que reage de forma diferente em cada organismo e que tem tirado tantas vidas impactou a busca do trabalhador por uma ocupação de trabalho.
Para a população de homens e mulheres negros a taxa de desocupação é maior e a pandemia aumentou ainda mais a adversidade racial. Além da vulnerabilidade de renda e moradia, eles tiveram que sair em busca de empregos para garantir o sustento da família, dessa forma, não puderam aderir ao isolamento social e ainda tiveram que enfrentar transportes públicos lotados, expondo-se diretamente ao risco de contaminação da doença e o de levar o vírus para dentro de casa.
Dos 11 milhões de ocupados que perderam os postos de trabalho entre o 4º trimestre de 2019 e o 2º trimestre de 2020, 31,4% tinham carteira de trabalho assinada; 28,7% não possuíam carteira e eram assalariados; 25,8% trabalhavam por conta própria; e 11,4% eram trabalhadoras domésticas sem carteira.
A MP 936 foi uma grande conquista para manter o vínculo trabalhista formal, porém, a medida provisória não conseguiu resguardar a população negra com esse direito, pois a grande maioria que antes tinha carteira assinada, com a pandemia passaram a não ter mais.
Os homens negros com carteira assinada somavam cerca de 1,4 milhão no 4º trimestre de 2019, mas no 2º trimestre de 2020 não tinham mais. Os que trabalhavam por conta própria, cerca de 1,2 milhão também perderam o emprego neste período.
Para as trabalhadoras negras o cenário não é diferente, das que perderam as ocupações 887 mil mulheres tinham carteira assinada, 620 mil sem carteira, 886 mil trabalhadoras domésticas e 875 mil trabalhadoras por conta própria.
A pesquisa demonstra que a desigualdade racial na hora do trabalhador negro ser inserido no mercado de trabalho e a taxa de ocupação existe e com proporções maiores. A população negra encontra mais obstáculos quando buscam por recolocação no trabalho, quando conseguem ganham um valor menor e são expostos a situações vulneráveis e frágeis com maior frequência.
Encerramento o mês da conscientização negra, o SINSSP divulga esses dados para informar a população sobre a importância de combater as desigualdades raciais. O homem negro e a mulher negra sofrem por causa da cor da sua pele, os que se encontram nas camadas mais pobres da população sofrem em dobro: por causa do preconceito racial e por causa da desigualdade social e precisam lutar dia após dia pela sua sobrevivência.
Fonte:DIEESE