Desemprego cede, mas contratação sem carteira é recorde nos setores público e privado

A taxa de desemprego foi a 8,7% no trimestre encerrado em setembro, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada nesta quinta-feira (27) pelo IBGE. O índice de desemprego recua tanto em relação a junho como a igual período de 2021 (12,6%). Agora, o total de desempregados é estimado em 9,460 milhões. Apesar de o número ser o menor desde dezembro de 2015, ele segue sendo “contaminado” por elevado índice de ocupações informais e de baixa qualidade.

Já os ocupados somam 99,269 milhões, atingindo recorde da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. Mas o ritmo de crescimento do emprego sem carteira continua bem acima do emprego com carteira assinada, tanto no setor privado como público. O nível de ocupação (pessoas ocupadas em relação à população em idade de trabalhar) subiu a 57,2%.

Assim, o número de empregados com carteira no setor privado subiu 8,2% na comparação anual, para 36,265 milhões. E o de empregados sem carteira aumentou 13% no mesmo período, para 13,212 milhões. Os trabalhadores por conta própria são 25,684 milhões, com estabilidade.

Informalidade e desalento

Com isso, segundo a Pnad, a taxa de informalidade segue próxima dos 40%. Agora, atinge 39,4% dos ocupados. São 39,1 milhões de trabalhadores informais. E a chamada taxa de subutilização (pessoas que gostariam de trabalhar mais) é de 20,1%, a menor desde março de 2016, com 23,4 milhões de pessoas. Por sua vez, os desalentados são 4,3 milhões (3,8% da força de trabalho).

A quantidade de trabalhadores domésticos foi a 5,889 milhões, aumento de 9,9% em 12 meses. Já os empregados no setor público chegaram ao recorde de 12,156 milhões, subindo 8,9% – mas os sem carteira cresceram 35,4%.

Estimado em R$ 2.737, o rendimento médio cresceu 3,7% no trimestre e 2,5% na comparação anual. A massa de rendimentos soma R$ 266,7 bilhões.

 


Com 38,7 milhões sem renda de trabalho, desemprego preocupa 82% das pessoas

Desde a malfadada reforma Trabalhista do ilegítimo  Michel Temer (MDB-SP), em 2017, milhares de trabalhadores e trabalhadoras estão sobrevivendo de bicos e de auxílios e benefícios públicos. Até agora esperam os 6 milhões de empregos que a equipe de Michel Temer prometeu em troca da retirada de mais de 100 direitos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Além da explosão da informalidade, o país tem atualmente quase 39 milhões de pessoas vivendo sem renda do trabalho. O tema, é claro, é a maior preocupação para 82% dos eleitores, segundo o Datafolha.

A última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que apesar da taxa do desemprego ter caído em relação aos últimos levantamentos (ficou em 8,9% no trimestre encerrado em agosto ante 9,1% de julho), o que se tem é o trabalho precarizado, sem direitos, com salários reduzidos insuficientes para a sobrevivência do trabalhador que tem de pagar aluguel, o transporte, a comida e outros itens básicos para ter uma vida digna. O trabalho sem carteira assinada bateu recorde da série histórica e chegou a 13,2 milhões de pessoas, 100 mil a mais do que na pesquisa anterior.

O cenário é o oposto do registrado nos 13 anos dos governos de Lula e Dilma, ambos do PT, quando foram criados 19,4 milhões de empregos formais - média de 1,5 milhão por ano -, com carteira assinada, ou seja, com direitos como férias, 13º salário, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e outros que Temer não conseguiu exterminar.

Após quase quatro anos do governo Jair Bolsonaro (PL), sem que seu ministro da Economia, Paulo Guedes, tivesse apresentado uma proposta sequer de geração de emprego e renda, a falta de emprego decente levou 38,7 milhões de pessoas a sobreviverem de sem qualquer renda originária do trabalho, seja formal ou informal.

Segundo um estudo elaborado pelo sociólogo Rogério Barbosa, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), o número corresponde a 17,9% da população em 2021, o segundo maior patamar já registrado desde 2012, e só fica atrás de 2020, quando o isolamento social imposto para evitar a propagação da pandemia de Covid-19 impediu que parte dos trabalhadores conseguisse trabalhar.

Além de ganhos com o trabalho, as famílias podem receber aposentadorias, pensões, benefícios sociais, aluguéis, juros e dividendos. A maior parte tem remuneração do trabalho, que costuma corresponder a 75% da renda familiar. Mas há 2% da população, cerca de 4 milhões de pessoas, que não recebem qualquer tipo de remuneração. Esse percentual dobrou em relação a 2012 e representa a maior parcela já registrada de brasileiros sem qualquer tipo de renda, explicou o autor do levantamento ao jornal O Globo.

Eleitores preocupados com o desemprego

A preocupação com um futuro decente com trabalho e renda preocupa 82% dos eleitores aptos a votar neste segundo turno, no próximo dia 30 (domingo), segundo o Datafolha. O instituto de pesquisa perguntou qual a importância que o entrevistado dá para diversos temas na hora de definir o voto, considerando uma nota de 1 (nada importante) a 5 (muito importante).

No geral, a redução do desemprego é apontada como tema muito importante para 82% dos eleitores. Na faixa de escolaridade, esse percentual é de 75% entre aqueles com ensino fundamental, sobe para 84% na faixa com ensino médio e chega a 86% para quem tem ensino superior.

Por faixa de renda, o percentual começa em 79% para quem ganha até dois salários mínimos mensais (R$ 2.424), fica em torno de 85% nas faixas intermediárias de renda e vai a 88% para famílias na faixa acima de dez salários mínimos (R$ 12.120). Ou seja, o desemprego preocupa mais quem tem maior escolaridade e maior rendimento.

Por faixa etária, a preocupação é maior para as pessoas mais jovens em idade de entrar no mercado de trabalho, a partir de 16 anos seguindo até os que têm 34 anos, idade em que normalmente as pessoas começam a subir hierarquicamente em suas carreiras, com melhores salários.

Inflação e Auxílio Brasil são os temas em 2º e 3º lugar de preocupação do eleitor

Segundo o Datafolha, a inflação e a manutenção do Auxílio Brasil, ficaram respectivamente em segundo e terceiro lugares, como temas   definição do voto no segundo turno da eleição presidencial.

O combate à inflação obteve 81% das respostas dos entrevistados na média geral. O percentual é de 77% para pessoas com ensino fundamental e chega a 84% para eleitores com curso superior. Entre os eleitores na faixa de dois a dez salários mínimos de renda, essa preocupação atinge 85% deles.

A manutenção do Auxílio Brasil de R$ 600 é apontada por 65% dos eleitores como muito importante na definição do voto. Este índice sobe para 72% nas faixas de ensino fundamental e renda até dois mínimos —aquelas que concentram a maior parte dos beneficiários. Na faixa mais alta de renda, está em 49%. Fica em 70% entre eleitores no Norte e Nordeste e em 60% no Sul e Centro-Oeste.

Quem não votou no primeiro turno poderá votar normalmente

Apesar da ausência, quem não votou no primeiro turno pode votar no segundo, pois cada turno de votação é uma eleição independente. Votar, dizem os dirigentes da CUT, e essencial para definir o Brasil que queremos no futuro: o do desemprego e da fome ou o do combate a essas mazelas que cresceram desde o golpe de 2016 e pioraram desde 2019?

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) podem e devem votar no segundo turno, em 30 de outubro, todos que estão em situação regular com a Justiça Eleitoral. Além da escolha do próximo presidente da República, as eleitoras e os eleitores elegerão governadores de 12 estados.

 


Otimismo de Paulo Guedes sobre economia reforça ‘mundo encantado’ dos mais ricos

O otimismo do ministro Paulo Guedes sobre a economia do Brasil, diante do aumento da fome e a diminuição da renda do brasileiro, mostra que o integrante do governo Bolsonaro só olha na perspectiva dos mais ricos, criando um “mundo encantado” próprio. A avaliação crítica é do diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior.

Segundo Guedes, ao citar a arrecadação de impostos federais, a economia “está decolando” e o Brasil irá “crescer ainda mais”. Enquanto o ministro projeta um país em crescimento, a economia nacional segue em retração, após divulgação do último Produto Interno Bruto (PIB).

O diretor do Dieese afirma que o PIB, ao apontar o encolhimento da economia, reflete em algo sentido pela população há bastante tempo. “A economia está longe de ser pujante, como o ministro tenta mostrar. Estamos com uma queda em relação aos meses anteriores, vivendo uma recessão técnica”, afirmou Fausto, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.

“É um período econômico aquém da necessidade do Brasil. A falta de crescimento econômico vem impactando a vidas das famílias. O desemprego está alto e a capacidade de compra está cada vez menor. Por isso, o Brasil voltou a ver a fome assolando casas e a insegurança alimentar atingir metade do país. No mundo encantado do Paulo Guedes, onde só se olha para os mais ricos, está tudo bem”, acrescentou.

Menos direitos, menos dinheiro

Sem uma renda que ajude a pagar todas as contas de casa, o brasileiro pode ser numa situação ainda pior, em breve. Um estudo encomendado pelo governo busca subsidiar nova reforma trabalhista, que propõe, entre outras medidas, trabalho aos domingos e proibir o reconhecimento de vínculo de emprego entre prestadores de serviço de aplicativos.

Na avaliação de Fausto, novamente o governo federal coloca as fichas na ideia do trabalhador escolher entre trabalho e direitos. Para ele, a questão dos aplicativos precisa ser olhada com cuidado. “Querem tirar da discussão trabalhista, colocando os trabalhadores como ‘empreendedores’. Há controle de jornada, controle de remuneração. Isso tudo define o vínculo empregatício”, alertou.

“Para piorar, esse relatório fala sobre diminuição da Justiça do Trabalho e alteração na legislação sindical. Novamente, vemos uma redução da proteção do trabalhador, limitando a fiscalização, longe de ser uma proposta para lidar com os desempregados e informais. O governo está tirando direitos e colocando o capital como referência de tudo.”

 


Endividamento bate novo recorde e atinge 75,6% das famílias brasileiras

Com o agravamento da crise econômica, as altas taxas de desemprego, de inflação e de juros e o salário cada vez mais em baixa, o endividamento no país bateu mais um recorde em novembro e atingiu 75,6% das famílias brasileiras. São famílias que declararam ter dívidas a vencer, em atraso ou não.

Um percentual de 26,1% declarou ter dívidas em atraso e um de 10,1% disse que não têm como pagar, ou seja, se juntarão ao contingente de inadimplentes.

Os dados são da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

De acordo com a CNC, 41% das famílias brasileiras devem a mais de 90 dias e 32,3% de 30 a 90 dias. Portanto, já devem estar com o nome sujo, nos cadastros dos serviços de proteção ao crédito – SCPC/Serasa – o que significa ficar proibido de comprar a prazo, usar cheque, abrir conta em banco se ainda não tiver, além de não poder fazer financiamentos bancários.

Depois de um dia do vencimento da dívida, o consumidor já pode entrar na lista de devedores do SCPC. No entanto, as empresas costumam esperar 30 dias ou mais para incluir, enquanto cobram o pagamento por meio de telefonemas, e-mail ou WhatsApp.

Confira outros dados:

. 54,4% dos que ganham até 10 salários-mínimos comprometeram entre 11% e 50% da renda com as dívidas;

. 53,7% dos que ganham mais de 10 mínimos também comprometerem de 11% a 50% da renda.

. 85,2% das dívidas são com cartão de crédito;

. 20.9% com carnês de lojas;

. 12,6% com prestações para pagar financiamento do carro;

. 9,9% com prestações para pagar financiamento da casa própria; e

. 9,5% são dívidas com crédito pessoal.

Na sequência vêm dívidas com cheque pré-datado, cheque especial e crédito consignado.

Mesmo com os juros maiores, as concessões de crédito com recursos livres para pessoas físicas seguem aumentando. Segundo os dados do Banco Central (Bacen), outubro registrou crescimento real de 3,3% nas concessões de crédito às pessoas físicas, nas modalidades com recursos livres. No saldo das operações, o aumento real foi de 1% nas transações com recursos livres.

Faixas de renda

A economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, aponta o uso do crédito como mais relevante ao grupo das famílias com rendimento de até dez salários-mínimos.

De outubro para novembro, o percentual de endividados nessa faixa de renda saltou de 75,9% para 77%. No mesmo mês do ano passado, o indicador registrava 67,9%, o que representa um aumento anual de quase dez pontos percentuais em 2021.

“Para esse grupo em especial, a inflação corrente ao consumidor girando próxima a 11% ao ano acirra o orçamento familiar e aumenta a necessidade do crédito para organizar as despesas”, avalia.

Para as famílias com renda acima de dez salários-mínimos, o endividamento também segue apresentando tendência de alta. Nesse grupo, a proporção de endividados alcançou, da mesma forma, o maior patamar da série histórica, com aumento mensal de 69,5% para 70,3%. A comparação anual demonstrou um crescimento de onze pontos percentuais diante dos 59,3% registrados em 2020.

“As famílias no grupo de renda mais elevado têm revertido suas poupanças, ampliadas durante a pandemia, para o consumo de serviços, auxiliando a retomada recente da atividade econômica no setor”, explica a economista.

Já o indicador de inadimplência apresentou divergências entre os dois grupos. A proporção de famílias com contas ou dívidas em atraso na faixa de renda mais baixa voltou a aumentar de 28,9% para 29,4% e ante os 28,9% registrados em novembro do ano passado, alcançando o maior nível desde setembro de 2020.

No grupo com rendimento mais alto, o percentual caiu de 11,6% para 11,4%, entre os dois últimos meses, e 11,8% na comparação anual, chegando à menor proporção desde julho de 2020.

Dívidas por mais tempo

Dentre os endividados, o percentual de famílias com dívidas por mais de um ano é crescente desde o fim do primeiro trimestre e atingiu a máxima histórica de 36,2%, indicando que os consumidores estão buscando alongar os prazos de pagamento de suas dívidas para que a parcela caiba nos orçamentos e, assim, reduza-se o comprometimento da renda.

De acordo com o levantamento, o prazo médio de atraso na quitação das dívidas voltou a aumentar em novembro, chegando a 61,6 dias. E, apesar da queda de 1,4 ponto percentual na comparação anual, a proporção de atrasos acima de 90 dias é a maior desde agosto deste ano, alcançando 41,6% dos inadimplentes.