Apagão em São Paulo fortalece críticas aos gestores e à privatização de serviços essenciais e da Sabesp

O descaso da concessionária Enel, que mantém sem energia pelo menos 500 mil imóveis há mais de 64 horas, tem contribuído para fortalecer as críticas à privatização da Sabesp. A entrega do controle acionário da companhia de saneamento básico, que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tenta conduzir a toque de caixa, passou a ser ainda mais rejeitada com o caos no estado causado pelo apagão.

O tema foi parar nos trending topic da rede social X (antigo Twitter) nesta segunda-feira (6). Além de criticar a grave situação enfrentada na capital e outras cidades, internautas também apontaram a omissão do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e do governador Tarcísio de Freitas diante da crise que deve se estender até amanhã. Segundo a concessionária, este é o prazo para o fornecimento ser restabelecido por completo após a queda de energia em diversos pontos da capital, do ABC paulista e outros municípios.

Do total de imóveis sem luz, 413 mil estão na capital paulista, segundo a prefeitura. A falta de fornecimento prejudicou ao menos 40 escolas, 12 delas no município. Até o momento, cerca de 1,6 milhão de clientes tiveram o serviço normalizado, de um total de cerca de 2,1 milhões afetados na última sexta (3). A Enel alega que, devido à complexidade do trabalho para reconstrução da rede atingida por queda de árvores de grande porte e galhos, a recuperação ocorre de forma gradual.

Alheio a todos os problemas e prejuízos causados pelo blecaute, Ricardo Nunes participava de evento do UFC São Paulo no camarote do GP de São Paulo de Fórmula 1, conforme postou neste final de semana. A imagem foi recebida com indignação de internautas.

“Não consegui ver a corrida porque estou há 53 horas sem luz”, ironizou um paulista. “A gente no escuro e o prefeito curtindo, meu Deus!!!”, acrescentou outro. “Continuo sem luz senhor Prefeito. Agora sem água para piorar. Geladeira inteira no lixo, um pecado. Real Parque volta quando? Não temos nem para quem perguntar”, disparou um outro internauta.

Parlamentares contestam descaso

O deputado federal e pré-candidato à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (Psol-SP), também criticou o chefe do Executivo municipal, que passou o “dia posando no camarote de eventos”, enquanto moradores da capital paulista sofrem com a falta de energia”. Para o parlamentar, há relação entre o descaso e a privatização. A Enel, empresa italiana de energia, foi quem comprou em 2018 a antiga Eletropaulo, empresa pública.

“Comida desperdiçada, prejuízo, comércios prejudicados. Quem vive em São Paulo está sentindo na pele a incompetência monumental da Enel. E pra piorar a situação, enquanto milhares de paulistanos estão há mais de 48 horas no escuro, o prefeito Ricardo Nunes passa o dia posando no camarote de eventos”, criticou a federal Erika Hilton (Psol-SP). Em sua postagem irônica, a parlamentar aproveitou para questionar a opinião dos internautas em uma enquete no formato de uma questão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado ontem (5).

Má gestão na capital e privatização alvo de críticas

O governador Tarcísio de Freitas, que corre contra o tempo pela privatização da Sabesp, também é alvo de questionamentos pela demora no restabelecimento da energia distribuída por uma empresa privada, que adquiriu uma empresa pública. Desde 2019, a Enel já reduziu cerca de 36% de seus funcionários, somando terceirizados e contratados. “Com a emergência climática que infelizmente nos assola, o caminho deveria ser o contrário: o de fortalecimento e capacitação dos profissionais e da estrutura da rede”, observou o mandato da deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP).

A forte chuva de sexta, acompanhada de ventos de 100 quilômetros/hora afetaram também outras cidades do estado de São Paulo, causando ao todo sete mortes. Na capital, duas pessoas foram vítimas de queda de árvore sobre os veículos na avenida Eduardo Sabino de Oliveira, na zona leste. De acordo com a prefeitura, há ainda 125 árvores caídas que precisam ser desenergizadas para que as equipes possam fazer o trabalho de remoção. Ricardo Nunes alegou que a gestão tem feito podas constantes e que as chuvas de sexta atingiram até “árvores saudáveis”.

No entanto, especialistas afirmam que a prefeitura poderia ter agido para amenizar o impacto da ventania. É o caso do manejo adequado de árvores e o enterramento dos cabos de energia e comunicação. E, mais do que isso, poderia adequar a cidade ao contexto de emergência climática, como avaliou a engenheira-civil e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) Denise Duarte ao jornal Folha de S. Paulo.

Especialista em adaptação das cidades à mudança climática, Denise comenta que a questão não tem sido priorizada pela gestão Nunes. O próprio debate sobre a revisão do Plano Diretor de São Paulo tratou superficialmente o problema e a atual discussão da Lei de Zoneamento segue na mesma direção. “Isso definitivamente não foi colocado em pauta”.

 


No Dia Mundial da Água, CUT fará protestos contra a privatização da Sabesp em SP

A CUT São Paulo e seus sindicatos filiados farão nova mobilização em 22 de março, Dia Mundial da Água. As entidades reforçam a luta contra a privatização dos setores de saneamento e de energia elétrica.

Além da revogação da privatização da Eletrobras, movimentos populares e organizações sindicais voltam a chamar atenção para a luta contra a privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), amplamente incentivada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), bem como para a luta contra a privatização da Empresa Metropolitana de Água e Energia (Emae), estatal que controla a vazão de água dos Rios Pinheiros e Tietê e dos reservatórios da Billings e Guarapiranga, atuando no controle de cheias no centro expandido de São Paulo.

O ato ocorrerá a partir das 13h, em Frente à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), na Avenida Pedro Álvares Cabral, 201, em Moema.

Secretária de Meio Ambiente da CUT-SP, Solange Ribeiro destaca que a privatização da Sabesp irá prejudicar a população paulista.

“Fornecimento de água e de saneamento custa caro e não gera muito retorno financeiro. Uma empresa privada que queira obter lucro com a operação da Sabesp vai ter que aumentar, e muito, a conta de água e vai deixar de fazer as obras necessárias para a universalização do acesso à água e ao saneamento, por isso muitas cidades reestatizaram o serviço de água e esgoto”, aponta.

A dirigente destaca também o tema levado às ruas de que “água é um direito, não mercadoria”. E comenta sobre a realidade dos servidores públicos.

“A situação em que os trabalhadores e trabalhadoras da Sabesp vão ficar será muito pior se ela for privatizada. As empresas públicas que foram privatizadas no passado, por exemplo, assediaram seus funcionários e realizaram demissões em massa”, lembra.

No mesmo dia, a subsede da CUT-SP em Jundiaí também promove ato em defesa da Sabesp pública e dos recursos naturais. A ação terá início às 9h30 no Calçadão da Barão de Jundiaí (em frente ao Santander).

Ato no Dia Mundial da Água

Quando: 22 de março | Quarta

São Paulo | 13h

Onde: Em Frente à Assembleia Legislativa de São Paulo (Av. Pedro Álvares Cabral, 201 - Moema)

Jundiaí | 9h30

Onde: Calçadão da Barão de Jundiaí (em frente ao Santander)