Marcha da Consciência Negra sai em meio a alívio nacional e preocupação estadual

A 19ª Marcha da Consciência Negra foi marcada, em São Paulo, por uma manifestação no início da tarde deste domingo (20). Sob o tema “Por um Brasil e São Paulo com democracia e sem racismo”, o movimento negro e organizações antirracistas ocuparam ruas da capital paulista. A concentração foi no Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, com caminhada prevista para as escadarias do Teatro Municipal, no centro da cidade, onde foi fundado o Movimento Negro Unificado (MNU) em 1978, sob o regime da ditadura civil-militar.

O ato trouxe uma sensação de alívio após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais desse ano, barrando a reeleição do candidato Jair Bolsonaro. Porém, se a vitória nacional representa esperança na luta contra a desigualdade, no âmbito estadual paulista há preocupação em torno da vitória de Tarcísio de Freitas.

“O novo governador já sinalizou que práticas antidemocráticas seguirão seu curso, assim como ocorre hoje no governo federal. Haverá um árduo trabalho pela frente, ainda mais diante de um governo que defende a militarização nas escolas e disse que vai retirar a câmera do uniforme dos policiais, justamente um equipamento que filma as ações dos agentes públicos e que permite um maior controle do uso da força policial”, disse, antes do ato, a secretária de Combate ao Racismo da CUT-SP, Rosana Aparecida da Silva. “Temos coletivos de combate ao racismo espalhados por vários sindicatos e que têm realizado importantes lutas nesse período e ampliaremos nossas mobilizações, alertando a população sobre as práticas antirracistas e sobre políticas ameaçadoras ao nosso povo”, ressalta a dirigente.

O Dia da Consciência Negra é celebrado no Brasil em 20 de novembro desde 2003. Em 2011, por meio da Lei 12.519, sancionada pela então presidenta Dilma Rousseff, foi instituído oficialmente como feriado. Apesar da lei, a data é feriado em somente em 1.260 cidades brasileiras, onde as Câmaras locais aprovaram leis regulamentando a decisão. Recentemente, o Senado aprovou um projeto de lei que torna o Dia Nacional da Consciência Negra feriado nacional. A decisão ainda tem de passar pela Câmara Federal e ser sancionada pelo presidente da República.

Zumbi dos Palmares

A data foi escolhida porque foi em 20 de novembro de 1695 que morreu Zumbi dos Palmares, o último dos líderes do Quilombo dos Palmares, em Pernambuco. O escravo que virou símbolo da luta do povo negro contra a escravidão foi assassinado durante uma batalha contra as forças da Coroa Portuguesa. Teve a cabeça cortada, salgada e exposta pelas autoridades no Pátio do Carmo, em Recife.

A luta de Zumbi dos Palmares é lembrada para conscientizar a população sobre a dívida social que o país tem com a população negra, além de destacar a importância do povo e da cultura africana no Brasil. É, também, uma data em que a luta antirracista ganha ainda mais visibilidade para conscientizar a sociedade sobre a perseguição histórica sofrida pela população negra. O Brasil foi um dos últimos países no mundo a abolir a escravidão, somente em 1888, após todos os outros países das Américas.

“Há uma dificuldade racista em conceber uma data rememorativa de um tempo histórico, e de um líder negro que lutou por liberdade e independência antes dos Inconfidentes. É uma data nacional de todas e todos os brasileiros, mas sabemos que somente os antirracistas a compreendem assim”, afirma Anatalina Lourenço, secretária de Combate ao Racismo da CUT.