Abraçando a campanha Setembro Amarelo, o SINSSP traz no #VamosConversar dessa edição o tema: suicídio entre jovens e adolescentes. O bate papo vai ajudar os servidores mais jovens e os que têm filhos, netos, sobrinhos, afilhados, amigos a identificar, enfrentar ou ajudar uma pessoa que se encontra nestas condições.
Nesta geração o suicídio, como tema, tomou conta do cotidiano. Está presente em filmes, séries e, infelizmente, na vida de adolescentes e jovens – de acordo com pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a cada 40 segundos uma morte é registrada por suicídio. Com essa trágica estatística, diversos questionamentos são levantados, tais como:
• O que leva um adolescente com inúmeras possibilidades fazer isso com sua vida?
• Que dor é essa que nem pais, nem psicólogos ou psiquiatras estão dando conta de resolver?
• O que fazer para ajudar?
• Estamos fazendo algo errado para esta geração?
• A culpa é da tecnologia?
• Seria dos pais?
• Seriam essas relações líquidas?
• Seria a falta de pertencimento?
• É a pressão do vestibular?
• Será que só conseguimos perceber essa dor quando esse jovem atenta contra a própria vida?
Segundo a terapeuta, coach familiar, especializada em terapia familiar sistêmica, e criadora da Filhosofia, Valéria Ribeiro, são muitas as perguntas e nenhuma resposta. “Os adolescentes e jovens se veem perdidos em meio a um mundo de mudanças muito rápidas, onde não se pode perder nenhuma novidade e acompanhá-las em tempo real é algo que tem exigido muito desses seres que ainda estão em formação física, emocional e neuronal. Em meio a um cenário tecnológico, obrigam os jovens a serem diferentes do que eles realmente querem”.
De acordo com a terapeuta, “os adolescentes têm muitas opções na vida, inclusive o suicídio, uma opção para se curar de uma dor que, nós, adultos não estamos conseguindo acessar e nem ajudá-los”, a coach explica que essa opção trágica é uma realidade na sociedade e, com isso, as conversas entre pais e filhos, é reduzida ao nada.
Para a coach familiar, o problema não é somente dos responsáveis pelo adolescente, mas de toda a sociedade: “Isso se torna uma dor na sociedade, pois está se tornando um problema social, onde a solução não passará somente pelos consultórios de psicólogos e psiquiatras, mas pelo pátio da escola, nas salas de aulas, nas mesas de refeição em casa, no almoço na casa da avó”.
Para ajudar no diálogo entre os pais e adolescente a criadora da Filhosofia apresenta dicas de como é possível realizar uma conversa franca e sensata:
• Eles precisam ser ouvidos. Ser ouvidos significa deixarmos nossos preconceitos, crenças e mesmo aquilo que vivemos, pois, os tempos mudaram.
• Precisamos dar voz a esses que sofrem, sem dizer: que isso é errado, ou frescura, ou que você é fraco ou “no meu tempo…”. A dor é real e eles estão usando um mecanismo definitivo para se livrar de uma dor temporária.
• Não invalidem, nem desqualifiquem a dor de seu filho, ele pode estar pedindo socorro.
A terapeuta alerta, ao prescrever esses cuidados, os pais a estarem sempre atentos: “Alguns jovens, apesar de estarem sofrendo, se revestem de uma couraça, na qual não transpomos e não acessamos, isso piora a situação, pois o tratamento pode não chegar para esse adolescente”, e complementa que “o jovem não revela o sofrimento, nem a causa dele, por isso, a atenção e o carinho sem preconceito são fundamentais para ajudar na fase em que esta passando”.
Além de estar atento outros fatores, segundo Valéria, devem estar em alerta, “reconheça a dor, a angustia, a ansiedade, os medos, as inseguranças que o filho possa ter e, principalmente, se coloque como uma pessoa que ele possa confiar e contar, pontue que você o ama, independente de quem ele seja ou será e que ele pertence ao principal grupo da sociedade, a família”, não somente sendo o pai ou a mãe, mas, o melhor amigo.
Os 13 Porquês
Nos deparamos hoje com diversas séries e filmes retratando o bullyng enfrentado por estudantes. Um exemplo famoso é a série original da Netflix “Os 13 Porquês” (“Thirteen Reasons Why”), baseado em um romance de mesmo nome. Fora da ficção, o suicídio se torna ainda mais real: diversos temas contribuem para os jovens entrarem em uma crise que leva a trágicas saídas.
“É importante ressaltar que a escola pode ser um agente contributivo do problema, quando os jovens sofrem bullying ou outros tipos de agressões (físicas, psíquicas e emocionais) ou quando são exigidos em demasia pelos colégios”, comenta Valéria Ribeiro.
A escola, segundo a especialista, deve estar sempre alerta, pois o ambiente escolar pode ocasionar futuros distúrbios ou problemas. Porém Valéria revela que, com alguns projetos, a instituição escolar pode mudar essas situações para melhor. “Palestras, rodas de debate, teatro, filmes ou até uma psicóloga na escola são meios de conscientização sobre depressão e suicídio”.
A função de ajudar não é somente da escola, os próprios colegas podem ajudar, mas, em alguns casos, esses não sabem como ou tem receio do que possa acontecer. Pensando nisso, a profissional esclarece como pode ser feito esse intermédio por colegas: “Também pode se buscar outras formas de ajudar, por exemplo: há alunos que sabem de colegas que estão em depressão, se automutilam ou que pensam em suicídio, mas não sabem como ajudar, talvez uma caixa no colégio onde aqueles, que acharem por bem, colocarem uma mensagem anônima informando que algum aluno está precisando de cuidados ou mesmo tratamento”.
” A temática sobre suicídio não deve ser colocada de lado, tem que ser debatida, seja na escola ou em casa, bem como é necessário que se estimule os jovens a melhorarem sua vivência social, pois isso melhora a produção de serotonina e diminui os quadros de depressão e suicídio”, finaliza Valéria.
Vencendo o Tabu
Os adolescentes, nesta fase de transição entre infância e vida adulta sofrem e, como consequência, tomam algumas atitudes erradas e precipitadas. A coach alerta que os pais devem estar atentos ao comportamento dos filhos e dialogar sobre assuntos que não são discutidos normalmente nas escolas. “Aos pais cabe a tarefa de estar atento aos filhos: prestar atenção nas mínimas mudanças, manter um diálogo aberto, falando de temas que são tabus, como depressão, suicídio, drogas, homossexualismo e gravidez, por exemplo”.
Além da conversa, os pais devem estar alertas para alguns sinais transmitidos por esses jovens. Para a terapeuta, “a melhor maneira de ajudar, tanto por parte da escola quanto dos pais, é se informar sobre depressão e suicídio, observar mudanças de comportamento e estimular a busca por auxilio psicológico”. Segundo Valéria, a informação nesses casos pode resultar em uma melhora.
Algumas das mudanças comportamentais, ressaltados pela coach:
• Falta de interesse pelo próprio bem-estar;
• Alterações significativas na personalidade ou nos hábitos;
• Comportamento ansioso, agitado ou deprimido;
• Queda no rendimento escolar;
• Afastamento da família e de amigos;
• Perda de interesse por atividades de que gostava;
• Perda ou ganho repentino de peso;
• Mudança no padrão usual de sono;
• Comentários autodepreciativos recorrentes ou negativos e desesperançosos em relação ao futuro;
• Disforia (combinação de tristeza, irritabilidade e acessos de raiva);
• Comentários sobre morte, sobre pessoas que morreram e interesse pelo assunto;
• Doação de pertences que valorizava;
• Expressão clara ou velada de querer morrer ou de pôr fim à vida;
• Promiscuidade repentina ou aumentada;
• Tentativas de ficar em dia com pendências pessoais e de fazer as pazes com desafetos.
Para Valéria, não negligenciar, ouvir com empatia e sem julgamentos, se livrar dos preconceitos, estar atentos a repetição de sentimentos e atitudes negativas, não desqualificar a pessoa, sentimento ou dor, ajudam o jovem a enxergar que existe alguém com quem ele pode contar. “O jovem não deve ser subestimado e nem desvalorizado, pois diversos deles passam por situações delicadas. Cabe ressaltar que aqueles que pensam em suicídio não querem morrer, o que acontece é que querem se ver livre de uma dor e para isso acabam usando uma solução permanente”, finaliza.
Serviço:
Valéria Ribeiro
Coach familiar, especializada em psicologia e desenvolvimento humano
Fonte:Valéria Ribeiro e SINSSP