O padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, participou de uma manifestação na tarde deste sábado (6) e colocou flores no lugar de paralelepípedos instalados pela gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) na parte inferior de viadutos na Zona Leste da capital. Os blocos foram retirados a marretada nesta terça-feira (2).
As pedras foram instaladas sob os viadutos Dom Luciano Mendes de Almeida e Antônio de Paiva Monteiro, localizados na Avenida Salim Farah Maluf, e começaram a ser retiradas pela própria Prefeitura de São Paulo nesta manhã, após repercussão negativa do serviço. A medida tinha recebido críticas por ser vista como higienista, uma forma de retirar a população de rua do local.
A Prefeitura de São Paulo alega que a decisão de instalar os paralelepípedos foi tomada de forma isolada por um funcionário, que já foi exonerado.
A Gestão Bruno Covas (PSDB) instalou blocos de paralelepípedo em elevados da Zona Leste, mas medida recebeu críticas por ser vista como forma de retirar população de rua do local. Na manhã desta terça-feira (2), coordenador da Pastoral do Povo de Rua ajudou subprefeitura da Mooca a desfazer serviço.
Nas redes sociais, o padre Júlio manifestou “indignação diante da opressão”, que considerou “inacreditável”, com “marretada nas pedras da injustiça”. Ao G1, ele disse discordar da versão alegada por funcionários da Prefeitura no local, que atribuíram a medida ao descarte irregular de lixo.
“A instalação de pedras não impede o descarte de lixo. Se a intenção fosse essa, que fizessem um Ecoponto então, e não deixar com esse aspecto de campo de concentração de Auschwitz”, apontou ele. “Olha essa operação de guerra com 30 funcionários, dois tratores, cinco caminhões, técnicos e supervisores para desfazer o erro que fizeram em uma cidade cheia de problemas”, disse o padre.
Funcionários do posto de gasolina vizinho disseram que os locais onde as pedras foram instaladas realmente se tornaram ponto de descarte irregular, mas acrescentaram que nos trechos cimentados havia grande quantidade de moradores de rua.
“Deste lado, onde o piso era de terra e virava lama, havia muito descarte irregular à noite; mas naquele outro trecho, cimentado, os moradores de rua ficavam, sim, em grande número”, disseram.
Mooca é 2º região com mais moradores de rua
Em 2019, a Prefeitura realizou o Censo da população em situação de rua. O levantamento, além de apontar o número total de pessoas nessa situação, tem como finalidade orientar a criação de políticas públicas.
No levantamento foram identificadas 24.344 pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo, e percebeu-se que a Mooca era a segunda região da capital com o maior número de moradores de rua e também a campeã de acolhimentos.
O que diz a Prefeitura de São Paulo
O G1 perguntou para a gestão Bruno Covas qual pasta decidiu pelo serviço, se houve acolhimento dos moradores de rua que ali viviam e o custo da obra.
Em nota, a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal das Subprefeituras, informou que “a implantação de pedras sob viadutos foi uma decisão isolada, que não faz parte da política de zeladoria da gestão municipal, tanto é que foi imediatamente determinada a remoção”.
A pasta acrescentou que um funcionário já foi exonerado do cargo e que instaurou uma sindicância para apurar os fatos e o valor gasto no serviço.
A Prefeitura também disse que a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), por meio do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS), realiza busca ativa para abordar pessoas em situação de rua e oferecer acolhimento nos equipamentos da rede socioassistencial.
O objetivo é oferecer orientações à saúde, para retirada de documentação, obtenção de benefícios dos programas de transferência de renda e encaminhamento para Centros de Acolhida.
Os viadutos Antônio de Paiva Monteiro e Dom Luciano Mendes de Almeida, de acordo com a Prefeitura, recebem o monitoramento diário do SEAS Mooca.
Sem-teto
Questionada sobre o tratamento que destina aos sem-teto, a Prefeitura de São Paulo disse que desde março de 2020, ampliou os serviços aos moradores em situação de rua por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Smads) com 1.969 novas vagas, incluindo hospedagem de idosos em hotéis durante a pandemia.
Além disso, a gestão destaca a “Ação Vidas no Centro”, que oferece sanitários, banhos e lavanderias, para pessoas em situação de vulnerabilidade social na região do Centro Histórico, e a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania também distribuiu, na pandemia, mais de 2 milhões de refeições e 222 mil litros de água, em parceria com restaurantes credenciados, inclusive na região da Mooca. A população pode ajudar solicitando uma abordagem social pela Central 156.
Outros episódios
Outras equipes da Prefeitura de São Paulo se envolveram em polêmicas por medidas similares, que afetavam a população de rua. No início de 2020, também durante a gestão Covas, a subprefeitura de Guaianases colocou grades sob o Viaduto Deputado Antônio Sylvio Cunha Bueno.
À época, a gestão argumentou que se tratava de um projeto de revitalização da Praça Jesus da Costa Teixeira, que traria mais segurança à população.
No final do mesmo ano, a Prefeitura instalou grades e floreiras embaixo de viadutos do Centro de São Paulo, impedindo a permanência de pessoas. Críticos também enxergaram medida higienista, mas Subprefeitura da Sé alegou que se tratava de sistema de microdrenagem do corredor Norte-Sul.
Antes disso, na gestão João Doria (PSDB), a Prefeitura de São Paulo colocou uma tela verde no local para onde foram realocados dezenas de moradores de rua na região da Praça 14 Bis, no Centro, enquanto aconteciam serviços de limpeza da então operação Cidade Linda.
Durante a gestão Gilberto Kassab, a Prefeitura criou canteiros antibanho ao redor do espelho d’água da Praça da Sé e instalou bancos antimendigo na Praça da República.
Fonte: TV Globo e G1 SP