As mortes causadas pela covid-19 em São Paulo crescem sem parar há quatro semanas. Na última semana de outubro, ocorreram 95 óbitos. Na semana entre 21 e 27 de novembro, quando o prefeito reeleito, Bruno Covas (PSDB), dizia que havia estabilidade na pandemia, ocorreram 175 óbitos. O que representa um aumento de 84% em quatro semanas.
Além disso, o número é o maior em dois meses – na última semana de setembro, foram 177 mortes. A RBA usou os dados de mortes “por ocorrência” do Boletim Diário Covid-19, da prefeitura, até o último dia 27 de novembro, para reduzir distorções devido à demora entre a ocorrência e o registro.
Os dados de mortes causadas pela covid-19 na capital paulista mostram um aumento contínuo. Na semana entre 17 e 23 de outubro, foram 95 mortes. O número se repetiu na semana seguinte. Entre 31 de outubro e 6 de novembro, foram 103 óbitos. Do dia 7 ao dia 13 de novembro, 132. Na semana seguinte, 14 a 20 de novembro, 138 mortes. E, na semana de 21 a 27, 175.
Além do aumento contínuo nas mortes causadas pela covid-19, a capital paulista também tem um grave aumento nas internações e na ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Desde 11 de novembro, quando estava em 33%, a taxa de ocupação de UTI sobe continuamente e ontem (2) chegou a 56% – aumento de quase 70%. Hoje são 959 pessoas internadas na rede municipal de saúde, sendo 533 em UTI e 266 entubadas. Na rede privada, a ocupação de UTI chegou a 84% na segunda-feira (30).
Em todo o estado, 10.114 pessoas estão internadas para tratamento da covid-19, sendo 5.834 em enfermaria e 4.280 em UTIs. Os dados sobre a pandemia foram divulgados na segunda-feira (1º) pelo governo de São Paulo. O número é o maior desde 17 de setembro, quando havia 10.222 pessoas internadas, sendo 5.951 em enfermaria e 4.271 em UTI.
O governador paulista, João Doria (PSDB), decretou o recuo de todo o estado para a fase amarela do Plano São Paulo. No entanto, ele usou dados apenas da última semana de evolução da pandemia, o que criou aparência de menor gravidade da situação. Se tivesse comparado a situação desde a última classificação, em 9 de outubro – como o próprio governo estadual havia estabelecido –, toda a Grande São Paulo teria passado para a fase laranja, mais restritiva.
O governo paulista comparou apenas os sete dias da última semana (22 a 28 de novembro) com os sete dias da semana anterior (15 a 21 de novembro), ignorando que as regiões da Grande São Paulo – incluindo a capital –, da Baixada Santista, de Campinas, Piracicaba e Taubaté passaram para a fase 4-verde em 10 de outubro. Em outubro, Doria informou que as atualizações do Plano São Paulo passariam a comparar um período de 28 dias com os 28 anteriores.
Escolhendo a dedo
No caso das internações, a comparação apenas dos dados da última semana com a semana anterior resultou num aumento de 7%. Se fosse considerado o intervalo de duas semanas, comparando o período de 15 a 28 de novembro, com o de 1º a 14 de novembro, o aumento seria de 28,6%.
No caso das mortes pela covid-19 em São Paulo, a distorção é ainda maior. Ao comparar apenas as mortes notificadas na última semana, com as da semana anterior, o resultado foi um aumento de 12%. Se Doria considerasse o período em que as regiões avançaram para a fase verde, o aumento no número de óbitos seria de 34%.
Essa “escolha” de dados também influenciou a análise do aumento de casos. Na semana de 8 a 14 de novembro foram registrados, em média, 5.927 novos casos de covid-19 por dia. Na semana seguinte (15 a 21), foram 5.430.
No entanto, também nesse ponto o dado utilizado foi apenas o da última semana (22 a 28), quando foram registrados 4.666 novos casos diários, em média. O que resultou numa queda de 14%. Porém, o secretário da Saúde, Jean Gorinchteyn, admitiu que a redução de casos registrados na última semana se deveu a uma redução no número de testes para a detecção do novo coronavírus aplicados na população.
Mesmo com essa redução, o mês de novembro teve 20,59% mais testes positivos (RT-PCR, que detecta a infecção ativa) para o novo coronavírus do que no mês de outubro. Mas o total de exames realizados cresceu apenas 3,64% no comparativo dos dois meses.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), considera-se que os órgãos de saúde governamentais têm a pandemia sob controle quando obtêm uma taxa de 5% de resultados positivos para o novo coronavírus em relação ao total de testes aplicados à população. Porém, em São Paulo, a taxa de resultados positivos ficou em 22,23% em outubro e 25,86% em novembro – cinco vezes acima do máximo estabelecido pela OMS.
Fonte: Rodrigo Gomes/RBA