Episódio #99 do MEGAFONE - Combater doenças infecciosas tem sido uma grande batalha para médicos e cientistas

No episódio #99 do MEGAFONE , o canal de Podcast do SINSSP traz ao debate o desafio da comunidade cientifica em encontrar medicamentos e cura para combater as doenças infecciosas, além das que haviam sido erradicadas e que voltaram a circular no mundo. Por que isso acontece? É possível proteger o mundo dessas doenças? Criar uma barreira sanitária seria uma saída para o controle da saúde da humanidade? O professor de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o epidemiologista Expedito José de Albuquerque Luna, respondeu esses questionamentos na rádio USP e agora você ouve aqui no MEGAFONE. Fiquem sintonizado com a gente!

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Episódio #98 do MEGAFONE -Estimular a atividade intelectual pode prevenir doenças como o Alzheimer e a demência, além desenvolver a nossa reserva cognitiva

No episódio #98 do MEGAFONE, o canal de Podcast do SINSSP fala sobre uma pesquisa que trata da relação da escolaridade com a diminuição do risco de desenvolver certas doenças na terceira idade e quanto maior ela for, maior é a reserva cognitiva que podemos adquirir ao longo da vida. E não só a questão que envolve diretamente a escolarização, mas a prática da leitura e até mesmo atividade física ajuda a desenvolver ainda mais a nossa reserva cognitiva. Quem explica o estudo é a professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Claudia Kimie Suemoto, ao Jornal da USP e para a Rádio USP. Fiquem sintonizado com a gente!

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Declínio cognitivo é maior para quem consome mais de 20% das calorias diárias em ultraprocessados

Pães de forma, macarrão instantâneo, refrigerantes: os ultraprocessados são produtos que passaram por um longo processo industrial ao ponto de sua composição final não lembrar a comida de verdade. Vários estudos mostram os prejuízos que eles causam à saúde. Uma das pesquisas mais recentes foi realizada por cientistas da USP com base no Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) e mostra que o consumo de ultraprocessados é um dos fatores que contribuem para o declínio do desempenho cognitivo ao longo do tempo. Os resultados mostraram que a queda cognitiva ao longo da vida foi 28% maior entre os participantes que consumiram mais de 20% das calorias diárias em ultraprocessados. Isso equivale, por exemplo, a comer três pães de forma todos os dias.

Os dados foram apresentados durante a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer, que aconteceu entre 31 de julho e 4 de agosto, em San Diego, nos Estados Unidos.

O Elsa-Brasil é um estudo epidemiológico nacional realizado desde 2008 por várias instituições como a USP, UFES, Fiocruz, UFBA, UFMG e UFRGS, que acompanha o estado de saúde de cerca de 15 mil funcionários. A ideia é investigar a incidência e fatores de risco para doenças crônicas, em particular, as cardiovasculares (acidente vascular cerebral, hipertensão, arteriosclerose, infarto) e outras associadas. Os participantes, com idades entre 35 e 74 anos, são de várias regiões do País. No próximo mês de agosto, eles serão novamente convocados para entrevistas e exames que identifiquem uma possível evolução dos fatores de risco para essas doenças, consideradas a principal causa de mortalidade no Brasil e no mundo.

Entre vários outros aspectos da saúde, o Elsa é o estudo com a maior amostra e o maior tempo de avaliação da performance cognitiva no Brasil. Os dados das três primeiras ondas (entre 2008 e 2010, 2012 e 2014 e de 2017 a 2018) embasaram uma série de artigos que encontraram associações de piora do desempenho cognitivo com diversos fatores, como, por exemplo, enxaquecas, consumo de álcool, inflamação e, principalmente, doenças vasculares como a hipertensão.

Fatores sociais também se mostram relevantes: um dos artigos mostrou que a adesão à dieta MIND (Mediterranean-DASH Intervention for Neurodegenerative Delay), criada para reduzir o risco de doenças que afetam a memória e a mente, só mostrou eficiência nesse objetivo em pacientes de alta renda, com melhores condições materiais de se alimentar de forma saudável. Em outro, os pesquisadores observaram que o estresse relacionado à rotina de trabalho também está associado ao declínio cognitivo.

Durante a conferência em San Diego, a equipe do Elsa apresenta dois novos estudos longitudinais, ainda não publicados, baseados no acompanhamento dos participantes durante as três primeiras ondas, que identificaram dois fatores que contribuem para o declínio do desempenho cognitivo ao longo do tempo: o consumo de ultraprocessados e o impacto do acúmulo de gordura nas artérias.

Consumo de ultraprocessados

O estudo sobre ultraprocessados foi realizado pela pesquisadora Natália Gonçalves em colaboração com outros integrantes do Elsa, inclusive, o grupo de pesquisa do professor Carlos Augusto Monteiro, coordenador do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Faculdade de Saúde Pública (FSP), um dos órgãos diretamente envolvidos na elaboração do Guia Alimentar para a População Brasileira.

A pesquisa utilizou os dados de 10.775 pessoas coletados nas três primeiras ondas do Elsa para classificar a alimentação dos participantes de acordo com os quatro grupos descritos pelo Guia: não processados (vegetais, frutas, cereais etc.), ingredientes culinários (azeites, sal, óleos), alimentos processados (com modificações leves como adição de sal ou açúcar) e ultraprocessados, “alimentos que passaram por um longo processo industrial ao ponto de que a sua composição final nem lembra comida de verdade” (pães de forma, macarrão instantâneo, marmitas prontas, refrigerantes, entre outros).

A partir disso, os pesquisadores dividiram as pessoas em quatro grupos, de acordo com a porcentagem de ultraprocessados na dieta, e descobriram que as pessoas que comem mais desse tipo de produto (acima de 20% da ingestão diária) têm uma queda 28% maior na performance cognitiva do que as que comem menos (abaixo de 20%).

Para tornar mais palpável o que isso significa, a pesquisadora explica que 20% de calorias diárias vindas de ultraprocessados equivalem a, por exemplo, míseras três fatias de pão de forma por dia.

“Esses resultados, além de inéditos, são muito importantes pois apontam para um comportamento que as pessoas podem modificar e, com isso, possivelmente diminuir a chance de declínio cognitivo ao longo dos anos”, diz Natália ao Jornal da USP.

Além dela, o artigo Higher consumption of ultra-processed foods is related to cognitive decline in the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil) tem como coautores Naomi Vidal Ferreira, Claudia Kimie Suemoto e Renata Bertazzi Levy, da Faculdade de Medicina da USP; Neha Khandpur, Euridice Martinez Steele, Dirce M. Marchioni, da Faculdade de Saúde Pública da USP; Paulo Andrade Lotufo e Isabela Judith Martins Bensenor, do Hospital Universitário da USP; Paulo Caramelli, da UFMG, e Sheila Maria Alvim de Matos, da UFBA.

Fonte: Jornal da USP

 


A população nunca teve tanta percepção de que ciência, conhecimento e educação são importantes, afirma reitor

Foi divulgada, no dia 1º de agosto, a entrevista do reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, concedida ao Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo (SEESP). Na entrevista, Carlotti fez um balanço de seus primeiros seis meses à frente da Reitoria da Universidade e destacou ações como a criação da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento e a implementação do programa Eixos Temáticos, que visa ampliar e institucionalizar a colaboração entre a Universidade e agentes externos, fazendo com que a produção de conhecimento possa se transformar em políticas públicas e desenvolvimento.

O reitor fala também sobre o impacto da redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) no orçamento da USP, da Unesp e da Unicamp.

“Minha expectativa é que o Estado de São Paulo, como tem feito desde 1989, encontre soluções para que não tenhamos diminuição de financiamento das nossas universidades. O mesmo com a Fapesp, que tem 1% de toda a arrecadação, não só ICMS. As universidades foram muito importantes no período da pandemia. Acho que a população nunca teve tanta percepção de que ciência, conhecimento e educação são importantes. As vacinas só puderam ser administradas no Brasil porque o Butantan tomou a frente dessa negociação, e os Hospitais das Clínicas de São Paulo e Ribeirão Preto fizeram os testes clínicos da Coronavac. Produzimos mais de mil respiradores aqui na Politécnica com a colaboração de pesquisadores, ex-alunos, da Marinha. Se você olhar países europeus, asiáticos e norte-americanos, o financiamento da pesquisa é muito bem planejado. Se o Brasil entender que o ensino superior deva ser valorizado e a geração de conhecimento deva ser realizada, vamos ter um caminho bom para a nossa sociedade”, afirmou.

Clique aqui para assistir à íntegra da entrevista.

 


‘Apagão do conhecimento’ no Brasil passa a ser um risco com fim da avaliação da pós-graduação

A suspensão da avaliação quadrienal dos programas de pós-graduação do Brasil coloca em risco toda a produção de conhecimento no Brasil, que fica a passos de um “apagão de dados”. É o que alerta a doutoranda em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP) e presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Flávia Calé.

Em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual, a especialista avaliou a renúncia coletiva de pelo menos 52 pesquisadores ligados à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes) como uma manifestação “sintomática do processo de “desmonte” da ciência brasileira no qual “todas as áreas da Capes estão sob ataque”.

De acordo com ela, sem a avaliação, “estamos primeiro correndo o risco de ter uma desregulamentação da pós-graduação”. “Ou seja, hoje temos regras de qualidade que garantem que a pós-graduação esteja voltada para o sentido público, e não para interesses de mercado. E, na minha opinião, um dos interesses dessa ação judicial que paralisa o sistema de avaliação é justamente a desregulamentação. Ela busca acabar com as regras que garantem a qualidade e abrir esse filão de mercado para setores econômicos da educação”, destaca.

A avaliação quadrienal da pós-graduação foi suspensa na Justiça em setembro após pedido do Ministério Público Federal (MPF). A paralisação, segundo o quadro técnico da agência, “compromete o trabalho dos pesquisadores”.

Em carta conjunta, divulgada nesta segunda (29), os servidores afirmam que não têm conseguido trabalhar seguindo padrões acadêmicos. Além disso, segundo eles, a presidência da Capes não tem atuado para defender a avaliação dos programas. Os pesquisadores apontam ainda que há uma “corrida desenfreada” para abertura de novos cursos de pós a distância.

Capes sofre o maior ataque desde 1990

Essa é a segunda demissão em massa em um órgão fundamental da educação brasileira em menos de um mês. Antes dela, no início de novembro, 37 servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) também pediram para deixar funções de chefia a menos de duas semanas da realização das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). De acordo com a presidenta da ANPG, a agência de fomento à pesquisa, administrada pelo Ministério da Educação (MEC), “tem sofrido o maior ataque desde 1990, quando ela foi fechada pelo governo Collor”.

“É realmente lamentável e faz parte desse contexto de desmonte. Todas as áreas hoje da Capes estão sob ataque”, observa.

Risco de apagão do conhecimento

Para Flávia, todo este processo faz parte de um projeto de desestruturação do governo de Jair Bolsonaro. A especialista adverte, no entanto, que a pós-graduação responde a uma “função estratégica do país” de formação de um “sistema robusto de produção tecnológica, científica e de formação de novos para a sociedade que é fundamental”.

A ANPG mostra que até 90% da produção científica nacional se dá vinculada à pós-graduação. O que permite, inclusive, a possibilidade de o Brasil pensar sobre o futuro e a autonomia, como ressalta a doutoranda.

“O combustível do desenvolvimento são mentes, cérebros, pessoas com capacidade de desenvolver tecnologia. E disso depende a autonomia tecnológica do Brasil. O mundo vai se dividindo entre aqueles que produzem e os que consomem tecnologia” ressalta.

“E a ciência tem sido um lugar de resistência, de luzes, que descortina esses mitos e a rede de mentiras criada no Brasil, sendo responsável por enfrentar também esse genocídio que aconteceu em relação à pandemia. Quem reagiu à ela foram as instituições do Estado: as universidades, os institutos de pesquisa e o SUS”, justifica Flávia Calé.