As consequências do governo Bolsonaro na Caixa

O Ministério Público do Trabalho (MPT) divulgou no último dia 29 de setembro o relatório da Ação Civil Pública que investiga as denúncias de assédio sexual atribuídas ao ex-presidente da CAIXA, Pedro Guimarães. Esta foi a primeira vez na história que um dirigente de alto escalão do banco foi denunciado por assédio sexual. O documento trouxe dados internos alarmantes sobre as condições de trabalho a que os empregados do banco estão submetidos.

As investigações sobre casos de Assédio Sexual atribuídas ao ex-presidente da Caixa após serem apresentadas ao Conselho, foram encaminhadas para os órgãos competentes.

Os elementos mostram que a partir da gestão de Pedro Guimarães, que foi designado ao cargo por Jair Bolsonaro, em 2019, os casos de assédio e afastamentos médicos explodiram. Os dados analisados mostram que a média de denúncias por assédio entre 2012 e 2018 era de 80 por ano. Já em 2019, até a saída do ex-presidente em 2022, a média anual era de 157 denúncias e depois que o caso se tornou público e notório, o número chegou a 561.

Mas não foi apenas o índice de pessoas assediadas que subiu, o número de afastamentos previdenciários também cresceu, em consequência da piora nas condições de trabalho. Os dados do relatório do MPT apontam que de 2013 a 2018 a média de afastamentos médicos era de 277 funcionários(as) por ano. A partir da gestão Bolsonaro, liderada por Guimarães, até sua saída em junho de 2022, a média anual passou a ser de 354 funcionários(as) por ano, o que representa 27,79% de aumento. Após a demissão de Pedro Guimarães, o número chegou a 383 afastamentos, alcançando o índice de 44,96%.

Outros tipos de assédio

A gestão Bolsonaro impactou também na cultura do banco público. A partir de 2019, por trás do discurso da meritocracia, o ex-presidente da Caixa implantou um modelo de gestão baseado no medo e na intimidação. Alta rotatividade de empregados em cargos de função e direção, fato que questionei em vários momentos no CA,  a submissão dos empregados a exercícios de flexão ou atividades vexatórias;  a proibição do uso de roupas vermelhas, caracterizando o assédio político; gritos, ameaças.

Estas situações vinham sendo  denunciadas pelas entidades sindicais e por mim.  Até casos de assédio religioso começaram a aparecer.  Em outubro, uma empregada da agência de Rio Branco, no Acre, relatou ao jornalista Altino Machado, um processo de evangelização. “Trabalho na Caixa Econômica há quase 18 anos e nunca vi um período de tanta opressão como nesses últimos anos”, afirmou a denunciante. “São gestores cada vez mais agressivos e intolerantes na condução das rotinas de trabalho, péssimas condições de trabalho e nos últimos meses tem se instalado nas unidades um processo de "evangelização" forçada que incomoda. Começou com um encontro semanal antes da abertura da agência para oração e agora já estão realizando eventos corporativos dentro de igrejas.” afirmou.

Consultado, o pastor Agostinho Gonçalves, líder da Igreja Batista do Bosque, respondeu que o banco havia feito um pedido de empréstimo da igreja, que foi um evento organizado pela própria Caixa.  Fato que fere completamente normas da Caixa, que precisam ser averiguadas.

É urgente e necessário mudar esta dinâmica, mas ele só será possível com a exemplar punição dos envolvidos nas denúncias de assédio sexual e moral, com  a implementação de um novo modelo de governança e gestão na Caixa, que obviamente depende de quem será o controlador.

É preciso ter um novo governo com compromisso na valorização das empresas públicas e dos empregados públicos.

 


Empregos em baixa

Na segunda rodada de negociação com o Comando Nacional dos Bancários, nesta segunda-feira (27), a Federação Nacional dos Bancos afirmou que não vai oferecer garantia de emprego à categoria. Os representantes dos trabalhadores lembraram que, apenas de 2013 a 2021, as instituições cortaram 77 mil postos de trabalho. Isso representa uma redução de 15% dos empregos nos bancos, além do fechamento de quase 5 mil agências. Agora, são 394 mil bancários. A categoria tem data-base em 1º de setembro.

“Os bancos são responsáveis por quase 1% do estoque do emprego no Brasil. Mas, mesmo sendo um dos setores mais lucrativos do país, somente na pandemia reduziram 2 mil postos de trabalho”, afirmou a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, uma das coordenadoras do Comando Nacional. “A alta rotatividade no setor tem um motivo: no primeiro quadrimestre de 2022, por exemplo, o salário médio daqueles que entravam nos bancos correspondia a apenas 83% do salário médio daqueles que eram desligados das empresas do setor”, acrescentou.

Correspondente bancário

Assim, outro item da pauta de hoje foi a terceirização crescente, que também afeta o nível e a qualidade dos empregos nos bancos. “O número de estabelecimentos que prestam serviço de correspondente bancário cresceu 42% entre 2016 e 2022, atingindo 470  mil em março de 2022, de acordo com o Banco Central”, informam os sindicalistas. “O desmonte trabalhista agravou a precarização e aumentou a terceirização no setor”, disse Ivone.

Em 1990, havia mais de 730 mil bancários no país. Em 2019, eram 455 mil. De acordo com os representantes dos trabalhadores, em dezembro do ano passado os bancos tinham mais de 464 milhões de clientes, o que representa 1.180 por empregado, considerando o número de 394 mil. Apenas seis anos antes, eram 309,4 milhões de clientes e 433 mil funcionários, ou 715 clientes por empregado. O crescimento foi de 65% nesse período.​​

Redução da jornada

“Nessa negociação cobramos a garantia dos empregos, o fim da terceirização, que se amplia no setor bancário, a preparação dos trabalhadores para as mudanças tecnológicas e a redução da jornada de trabalho para quatro dias”, afirmou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, também uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários.

Assim, nos 10 últimos anos, o lucro dos bancos cresceu 15% acima da inflação. Em 2021, os cinco maiores (Caixa, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander) lucraram, somados, R$ 107,7 bilhões, 34,1% a mais do que no ano anterior. Só no primeiro trimestre deste ano, o lucro foi de R$ 27,6 bilhões, 17,5% maior do que em igual período do ano passado. “Uma das reivindicações da categoria é a  redução da jornada para quatro dias por semana, associada à redução da intensidade do trabalho e do controle da hora extra, sempre realizadas através da negociação coletiva com os sindicatos”, lembra Ivone.