Raimundo Suzart estará à frente da CUT São Paulo na gestão de 2023-2027. O dirigente foi eleito presidente durante o 16º Congresso Estadual da CUT São Paulo (CECUT-SP), realizado na cidade de Praia Grande, no litoral paulista, entre os dias 25 e 27 de agosto.
Nascido na cidade de Andaraí, uma das cidades mais conhecidas na região da Chapada da Diamantina, na Bahia, Suzart está na base da categoria química do ABC há 34 anos.
Seu primeiro emprego na área foi na Wheaton Brasil, em 1989. Sua história de militância começa, contudo, no movimento negro, participando de discussões e formação sobre o racismo.
Seu primeiro contato com o sindicato foi durante a comissão de PLR (participação nos lucros e resultados), enquanto trabalhador da fábrica, em meados de 1995. Em 1997, é convidado a compor a chapa 1 da entidade, que sai vitoriosa. Passa, a partir desse momento, a compor a direção plena da entidade como diretor de base.
Entre 1999 e 2002, se torna secretário regional da subsede dos Químicos do ABC, na cidade de Diadema (SP). De 2003 a 2005, passa a atuar como assessor do deputado federal professor Luizinho (PT). No final de 2005, retorna ao sindicato, assumindo o cargo de secretário regional de Diadema e, posteriormente, a coordenação da regional, em 2008.
Entre 2010 e 2014, é eleito coordenador político (cargo similar ao de presidente) da Federação dos Trabalhadores do Ramo Químico da CUT (Fetquim). Em junho de 2014, assume a presidência do Sindicato dos Químicos do ABC, cargo exercido até abril de 2023.
Entre tantas atribuições assumidas ao longo de sua trajetória no movimento sindical, Suzart também compôs a Comissão Estadual e Nacional de Combate ao Racismo da CUT, foi presidente do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no estado de São Paulo, secretário de Finanças do Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (Diesat) e diretor da Confederação Nacional do Ramo Químico (CNRQ).
Confira a entrevista com o novo presidente eleito.
Reportagem da CUT-SP: O sindicalismo foi severamente atacado nos últimos anos. Como você observa os desafios em relação ao mundo do trabalho nesse momento no país?
Raimundo Suzart: O movimento sindical começa a ser duramente atacado a partir do golpe contra a presidenta eleita Dilma Rousseff. Com Michel Temer, começam os ataques à classe trabalhadora com as reformas da Previdência e Trabalhista. Isso se aprofunda com a chegada do ultradireitista Jair Bolsonaro, que não mediu esforços para atacar os direitos trabalhistas e sociais e as organizações de classe. Estamos em um momento de retomada dos direitos e de fortalecimento dos movimentos sindical e popular. Nossa esperança é garantir o crescimento econômico e discutir os direitos trabalhistas que foram tirados.
O projeto privatista de Tarcísio de Freitas (Republicanos) avança contra trens, Metrô, estradas e Sabesp. Qual sua avaliação sobre o governo paulista?
Não há dúvidas de que o governador de São Paulo é uma expressão do neoliberalismo. Cada projeto dessa gestão demarca sua defesa de que o papel do Estado na sociedade deve ser o mínimo possível, abrindo de vez a administração de nossos patrimônios para as mãos da iniciativa privada, cujo interesse central está voltado à lucratividade. Vamos ampliar as nossas lutas relacionadas à saúde, educação, meio ambiente, mobilidade e resistir para que nenhuma empresa pública seja privatizada, impedindo que os serviços essenciais à população sejam sucateados. É fundamental garantir que o patrimônio do povo paulista continue com o povo e sob o controle do poder público.
Gênero, racismo, LGBTQIA+ e pessoas com deficiência: como a CUT-SP pretende fortalecer essas lutas?
Temos uma classe trabalhadora diversa e que precisa ser observada em suas especificidades. Como homem negro, já fui vítima de racismo em um posto de gasolina, sendo seguido do banheiro até a loja de conveniência. O racismo, porém, não está concentrado apenas em espaços assim. Ele acontece nos locais de trabalho e em tudo que é lugar na sociedade. Isso precisa ser enfrentado e combatido, assim como outros preconceitos e violências.
Há três meses, por exemplo, ficamos sabendo pelo Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil que, em 2022, ocorreram 273 mortes LGBT de forma violenta em nosso país, o que é inadmissível. Também no ano passado, uma mulher foi morta a cada 6 horas, um aumento assustador dos casos de feminicídio.
No caso das pessoas com deficiência, é sabido que elas passam inúmeros problemas, estão fora do mercado de trabalho em sua grande maioria e recebem salários menores. A tudo isso daremos ainda maior atenção em nossa gestão. E seguiremos organizando e participando de todos os fóruns públicos e sociais, ocupando espaços públicos de discussão e fortalecendo as comissões da CUT para representar a classe trabalhadora em sua diversidade.