Depois que a OMS (Organização Mundial da Saúde) classificou o estado de São Paulo como área de risco, a população está em pânico, formando filas quilométricas para tentar se vacinar contra a febre amarela. Dos 20 casos confirmados, 11 morreram o que levou o Ministério da Saúde a adiantar a campanha de vacinação em São Paulo e no Rio de Janeiro para o próximo dia 25 de janeiro. Na Bahia, a campanha começa 19 de fevereiro.
Em entrevista a TVT, o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que não há, nesse momento, risco de transmissão de febre amarela nas cidades. “Não há motivo para pânico. Não tem volume de casos de seres humanos infectados com o vírus da febre amarela suficiente para que você tenha um mosquito picando essa pessoa e esse mesmo mosquito picando outra pessoa”.
“A febre amarela não é transmitida no apertar de mãos, no abraço, ele depende desse vetor, do mosquito transmitir de uma pessoa para outra”, tranquila Padilha.
Mas esse surto poderia ter sido evitado. De acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ao invés de priorizar as áreas rurais, foco da febre amarela silvestre, na hora de decidir onde vacinar contra a doença, as autoridades priorizaram áreas de grande concentração populacional.
“A política a ser adotada é uma escolha, e a escolha neste caso foi falha”, afirmou a historiadora Danielle Sanches, do Departamento de Políticas Públicas, autora do trabalho. Segundo ela, não faltam vacinas, “o que falta é uma política de distribuição mais eficaz”.
“Nas áreas rurais, há uma dificuldade maior da população para chegar aos postos de saúde: deveria haver um esforço do serviço de saúde para vacinar essas populações, sobretudo nas áreas endêmicas”, completou a especialista.
Para a secretária Nacional da Saúde do Trabalhador da CUT, Madalena Margarida da Silva, o estudo da FGV mostra que a má gestão do governo de Geraldo Alckmin (PSDB-SP) na área da saúde contribuiu para o surto da doença no Estado mais rico do país.
“Tudo isso poderia ser evitado se o Estado tivesse priorizado ações de vigilância e promoção da saúde, oferecendo vacinação a população das áreas rurais e de florestas e investido em campanhas de educação permanente para população”, afirmou Madalena.
O que é a febre amarela
Existem dois tipos de febre amarela: a silvestre e a urbana. O que difere uma da outra é o mosquito transmissor.
A febre amarela silvestre acontece em áreas de floresta, onde necessariamente é preciso um hospedeiro permanente do vírus, que são os macacos. Um mosquito que só tem na floresta, que não vive na cidade, pica esse macaco e também pica um ser humano que tenha entrado na floresta.
Já o vírus da febre amarela urbana é transmitido pelo já conhecido Aedes Aegypti.
O Brasil registrou uma grande epidemia urbana de febre amarela no Rio de Janeiro em 1929, totalizando 738 casos notificados com 478 óbitos. A partir desta data, casos esporádicos foram relatados em outros estados do país, sendo detectado o último caso em 1942, no Acre.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registrou 35 casos da doença de julho de 2017 a 14 de janeiro deste ano. Os casos envolvem, principalmente, a região Sudeste e são de residentes em zonas rurais ou que tiveram contato com áreas silvestres por motivos de trabalho ou lazer.
Como se prevenir
Para a médica sanitarista e epidemiologista, Célia Guerra Medina, tão importante quanto a vacina é a proteção do ambiente onde as pessoas vivem e o controle dos mosquitos.
“O bendito do Aedes pode vir a se tornar o grande transmissor. Então os cuidados que foram amplamente divulgados para o controle da dengue valem agora também: não deixar recipientes com água ou passível de acumular água de chuva e, principalmente, limpar todo resíduo de lixo”, alerta a médica.
Campanha de vacinação
A campanha de vacinação contra a febre amarela nos municípios de São Paulo e Rio de Janeiro vai começar na próxima semana, 25 de janeiro. Na Bahia, a campanha começa 19 de fevereiro. No total, 21,7 milhões de pessoas de 77 municípios destes Estados deverão ser vacinadas na campanha, sendo 16,5 milhões com a dose fracionada e 5,2 milhões com a dose padrão. O objetivo é evitar a expansão do vírus para áreas próximas de onde ele circula atualmente.
Vacina fracionada
A febre amarela é uma doença sazonal, geralmente com aumento de casos de dezembro a maio. A campanha de fracionamento da vacina vem para evitar o aumento de casos e mortes, já que o vírus entrou em uma área com elevada densidade populacional, sem recomendação anterior de vacinação.
Segundo estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos/Fiocruz), a vacina fracionada é a aplicação de uma dose menor que a dose oferecida normalmente. A vacina padrão contém 0,5 ml e protege pela vida toda, enquanto a dose fracionada tem 0,1 ml e imuniza por, pelo menos, oito anos.
Segundo informou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a dose fracionada não vale para quem for viajar para países que exigem o Certificado Internacional de Vacinação ou Profilaxia (CIVP) – o documento é fornecido apenas para quem toma a dose-padrão da vacina.
Contraindicação
Alguns públicos não são indicados para receber a dose fracionada, portanto irão participar da campanha recebendo a dose padrão: crianças de 9 meses a menores de dois anos; pessoas com condições clínicas especiais (vivendo com HIV/Aids, ao final do tratamento de quimioterapia, pacientes com doenças hematológicas, entre outras), gestantes e viajante internacional (devem apresentar comprovante de viagem no ato da vacinação). A vacinação fracionada é recomendada para pessoas a partir dos dois anos.
A vacina é contraindicada para pacientes em tratamento de câncer, pessoas com imunossupressão e pessoas com reação alérgica grave à proteína do ovo. No caso dos idosos, a vacinação deverá ser aplicada após avaliação dos serviços de saúde. A vacinação contra febre amarela impede a doação de sangue por um período de quatro semanas. As pessoas devem realizar a doação de sangue antes da vacinação para manutenção dos estoques de hemocomponentes.
Fonte: Érica Aragão/CUT