Para a entidade médica, desreguladores endócrinos presentes em muitos agrotóxicos que serão liberados sem estudos vão aumentar os casos de câncer e colocar em risco a população.
A regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-SP) divulgou ontem (10) alerta sobre o risco de aumento dos casos de câncer de mama caso o Pacote do Veneno seja aprovado no plenário da Câmara. No final de junho, a comissão especial aprovou o substitutivo do deputado ruralista Luiz Nishimori (PR-PR) que dá parecer favorável a 28 projetos de lei apensados ao PL 6.299, de 2002, revogando assim a atual Lei dos Agrotóxicos.
“Se aprovado o PL, a liberação de vários produtos, sem sabermos se existem estudos suficientes, coloca a população em risco. Já está comprovado que muitos dos agrotóxicos são desreguladores endócrinos e grande parte deles atuam da mesma forma que o estrogênio, o que justificaria a contaminação pela cadeia alimentar”, afirmou em nota a endocrinologista Tânia Bachega, integrante da SBEM-SP. Confira vídeo gravado pela especialista ao final desta reportagem.
De acordo com ela, os desreguladores endócrinos estão associados à frequência aumentada de alguns tipos de câncer, como o de mama, próstata e intestino grosso. Esta é uma das hipóteses que explica a incidência do câncer de mama muito acima do esperado quando comparado ao crescimento da população, já que o aparecimento do câncer depende de atividade estrogênica”, explicou.
Irresponsabilidade
Em âmbito nacional, a entidade já havia emitido posicionamento contrário ao Pacote, manifestando preocupação com os riscos provocados pela decisão dos deputados que aprovaram o substitutivo na comissão. Assinado pelo presidente da SBEM, o endocrinologista Fábio Trujilho, e pela presidenta da comissão de desreguladores endócrinos, Elaine Frade, o manifesto destaca que a proposta de relaxamento do controle sanitário deste PL é confirmada quando se deixa a cargo do Ministério da Agricultura a análise e deliberação sobre os pleitos de registros de agrotóxicos.
Condena ainda o fato de que produtos com “risco aceitável” passam a ser permitidos e apenas aqueles com “risco inaceitável” podem ser proibidos. “Esta medida é absurda e tendenciosa, pois além de retirar o poder de avaliação de órgãos com competência técnica para as referidas análises (a exemplo da Anvisa, que aponta uma lista de nove agrotóxicos proibidos devido ao potencial cancerígeno, de desregulação endócrina, de mutagênese e danos no aparelho reprodutor) coloca a população em risco.”
Os endocrinologistas destacam que a literatura médica apresenta mais de 600 estudos demonstrando o potencial dos agrotóxicos de interferir nos sistemas endócrinos, especialmente no desenvolvimento do sistema reprodutivo masculino na exposição intra-útero. Vale ressaltar aqui que as principais janelas de vulnerabilidade à exposição dos desreguladores endócrinos são a fase fetal, a infância e a adolescência e que as possíveis alterações epigenéticas causadas pela exposição aos agrotóxicos podem ser transmitidas para as futuras gerações.
“Em suma, baseada no “Princípio da Precaução” diante do potencial risco à saúde, a SBEM se posiciona veemente contra esta proposta de relaxamento do controle do uso de agrotóxicos, considerando grande irresponsabilidade e descompromisso com a saúde da população”.
Fonte:Redação RBA