O SINSSP está trazendo informações e orientações para a categoria neste mês dedicado à prevenção ao suicídio, Setembro Amarelo, e na contribuição de hoje a Dra. Elisa Brietzke, psiquiatra e especialista em transtorno bipolar e depressão e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo, vai contribuir com o tema: depressão bipolar.
Setembro Amarelo é uma campanha importante por conscientizar a sociedade sobre a necessidade de promover saúde mental, prevenir e tratar transtornos mentais e evitar a morte por suicídio. A depressão bipolar é o transtorno psiquiátrico responsável pela maior quantidade de mortes por suicídio, portanto, prevenir suicídio passa pelo diagnóstico e tratamento correto da depressão bipolar.
O transtorno bipolar é a condição mental mais associada a mortes por suicídio no Brasil. De acordo com a ABTB (Associação Brasileira de Transtorno Bipolar), cerca de 6 milhões de brasileiros têm transtorno bipolar, e desses, segundo a ABP, 15% acabam tirando a própria vida.
O transtorno bipolar é causado por uma combinação de fatores hereditários com fatores ambientais, tais como exposição a maus tratos na infância, exposição a stress, uso de álcool e drogas, privação de sono, doenças médicas gerais, entre outros. A combinação de fatores genéticos e ambientais altera o desenvolvimento de regiões cerebrais importantes para a regulação emocional, fazendo com que o transtorno bipolar surja.
Existem estudos que mostram que ao noticiar detalhes sobre as circunstâncias da morte por suicídio pode ter um efeito deletério na saúde mental de pessoas que já estejam em situação vulnerável, por isso a mídia costuma não divulgar assuntos relacionados ao tema. Porém, campanhas de informação e atualização são importantes para reduzir o estigma e prevenir as mortes por suicídio. Isso já é feito em vários países e a campanha do setembro amarelo vem tomando cada vez mais corpo no Brasil, relata a psiquiatra.
O SINSSP tomou conhecimento de que há indícios no INSS sobre vários casos de suicídio cometido por servidores públicos devido ao acúmulo de trabalho, stress prolongando e de nível máximo por falta de trabalhadores. Para a Dra Brietzke, problemas complexos exigem ações em muitas frentes, que incluem os ambientes profissionais. A prevenção do suicídio passa pela promoção de um ambiente de trabalho produtivo, com ações específicas de manejo de stress, de resolução de conflitos e de restrição absoluta a comportamentos como assédio moral ou assédio sexual.
A psiquiatra ainda orienta que ações preventivas como orientação sobre os riscos do uso de álcool ou drogas, sobre o manejo da ansiedade e do stress e sobre promoção de saúde mental são importantes. A depressão também está ligada a problemas físicos, como obesidade e doenças cardiovasculares, o que é uma informação importante para servidores que trabalham sentados o dia inteiro, por exemplo.
Qualquer pessoa em situação de sofrimento emocional deve pedir ajuda a um profissional da área de saúde mental, como um médico psiquiatra ou psicólogo. Este profissional fará uma avaliação diagnóstica e, junto com o paciente e, quando necessário, sua família, traçará um plano terapêutico. Em situações agudas, quando a pessoa está com pensamentos persistentes de suicídios, fazendo planos sobre como executá-lo, ou mesmo após uma tentativa de suicídio, uma avaliação em pronto-socorro é a atitude mais indicada, explica a Dra Elisa Brietzke.
Como ajudar o paciente e o que deve e o que não deve ser feito diante de uma pessoa com pensamento suicida e/ou com a depressão bipolar?
Segundo informações da psiquiatra, o primeiro passo é ouvir a angústia dessa pessoa, abrindo uma comunicação sem julgamentos. A imensa maioria das pessoas que tenta suicídio não quer necessariamente morrer. O mais comum é que estejam vivenciando uma situação tão dolorosa para a qual não veem saída, onde a morte começa a parecer uma alternativa viável para escapar desse sofrimento. Caso não exista nenhuma pessoa na família ou no círculo de amizades disponível para conversar com a pessoa, um recurso válido é o telefone do CVV (Centro de Valorização da Vida), que funciona com voluntários, disponíveis 24 horas por dia, para acolher angústias emocionais e prevenir o suicídio. O CVV atende no número 188 e a ligação é gratuita.
A Dra Elisa Brietzke diz que o primeiro passo é a informação. Quanto mais a gente souber sobre o que é a depressão bipolar, mais poderemos ajudar. Uma das formas de encontrar recomendações confiáveis na internet é no site da Associação Brasileira dos Amigos, Familiares e Portadores de Transtornos Afetivos (www.abrata.org.br), comenta a doutora.
Conforme a pesquisadora, a informação nos mostra que pensamentos de suicídio, na imensa maioria das vezes, estão associados a um transtorno mental. A partir daí, o diagnóstico e tratamento corretos não só previnem um potencial suicídio naquele momento, como restauram a saúde e o bem estar. O tratamento da depressão bipolar inclui principalmente medicamentos e psicoterapia. Hoje em dia, os remédios disponíveis são eficazes e com cada vez menos efeitos colaterais, restaurando a saúde e a qualidade de vida. Muitos locais oferecem tratamento, incluindo os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), unidades básicas de saúde (UBS), Ambulatórios Médicos de Especialidades (AME) e hospitais do SUS, orienta a médica.
Quais os sinais de alerta para a depressão bipolar?
O principal sinal de alerta da depressão bipolar é a alternância de episódios de depressão, com períodos de forte euforia ou irritabilidade. A história típica de um paciente com depressão bipolar é a de um indivíduo em estado depressivo referindo um ou mais episódios na vida, com duração de uma semana em que ele se sentia extremamente alegre, eufórico ou irritável, com aumento do nível de energia, dormindo muito pouco, com pensamentos acelerados e falando muito. Comportamentos comuns nesse período incluem comprar excessivamente, ter aumento da atividade sexual ou fazer coisas que possam ser danosas para o indivíduo ou para a sociedade.
Quais os mitos criados sobre o suicídio e como desfazê-los?
Alguns mitos comuns sobre o suicídio incluem, por exemplo, a ideia de que pessoas tentam suicídio somente para chamar a atenção, ou ainda a ideia de que se alguém quiser realmente se matar não tem nada que possa ser feito para prevenir. Mitos se desfazem com informação e, nesse sentido, o setembro amarelo é um momento especial para a conscientização sobre esse assunto.
Vamos conversar?
Serviço:
Dra. Elisa Brietzke
Psiquiatra e especialista em transtorno bipolar e depressão
Pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo.